sexta-feira, 23 de maio de 2014

Benção das Fitas.

Saí do consultório, já a noite havia caído, apesar da escuridão ainda não fazia muito frio. Caminhei alguns metros até a Musimusa, que ficava no 2º andar de um sobrado, uma casa antiga, com uma escada direta em madeira, daquelas que rangem com o peso do passo. O combinado era você esperar no patamar da escada junto a entrada. Eu não subia, quando chegava dava um sorriso e você, pulando, descia a escada. Linda, toda vestida de rosa, com seu fato de ballet e seu cabelo impecavelmente penteado com um coque que só sua mãe sabia fazer. De mãos dadas, caminhávamos até em casa, sem pressa, não era perto, você não parava de falar um minuto sequer e eu, tentava diminuir o passo, com a ínfima esperança de atrasar o tempo.
Não consegui!
Com apenas 17 anos você entrou para a faculdade, e hoje termina o curso. Parabéns filha, você fez uma trajectória académica impecável, fez seu estágio na Suécia, ajudou nas organizações de jornadas e congressos, foi integrante da Tuna Académica, da Comissão de Praxe, enfim, "curtiu" seu tempo de estudante. 
Agora começa uma nova fase, pois a vida e feita de fases, e mais uma etapa inicia, bem vinda Drª Marina.
  

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Fotonovela

Assalto no Aeroporto 

O tempo passa, mas não cansamos de alertar nossos filhos sobre os perigos diários que enfrentamos, principalmente quando acreditamos na boa fé. No fim somos burlados e enganados. Vejam o que aconteceu com essas duas turistas incautas: 

Isadora e Estefânia estavam felizes com a viagem que haviam feito, mas, cansadas pois afinal foram dias incríveis alternados entre visitas a capital francesa e brinquedos loucos na Eurodisney. No balanço final, Notre dame, Louvre, e aquela torre enferrujada, deixaram muito a desejar comparadas com o incrível ambiente que se vivia na Eurodisney. 
Chegou o dia de voltar e carregaram suas mochilas, com os bens valiosos, e insubstituíveis, que todo mochileiro tem. Como vida de turista pé descalço não é fácil, quando chegaram ao aeroporto Charles de Gaulle, Isadora estava aflita para ir a toilette


Como estavam em um país de língua e sinaléptica estrangeira, perguntaram a um simpático senhor se aquela placa significava banheiro, ao que o simpático senhor respondeu afirmativamente.


Como demonstração de cavalheirismo e hospitalidade francesa, se ofereceu para tomar conta das mochilas, e claro está, que as duas ficaram encantadas com a gentileza e aceitaram, afirmando que apesar da urgência em ir a Casa de banho, não demorariam. Vê-se bem que o simpático senhor muito se esmerou em tomar conta das mochilas. O gatuno, inicialmente, deu uma olhada no interior das mochilas e quando viu a fortuna que lá havia em colares de plástico, elástico de cabelos, tiaras, bonecos de peluche, um travesseiro amarelado com um cheiro que provavelmente seria de algum perfume ainda não lançado no mercado..., pensou: saiu-me a sorte grande e toca a correr para a saída.


Claro que as meninas ficaram desesperadas com o furto. Além do prejuízo material foi por água abaixo todo o encanto com as pessoas que julgavam todas simpáticas e prestativas. Afinal também existem pessoas más. O desespero era claro, e não se enganem, pois se parece que estão rindo, não estão, é a decepção estampada em seus jovens rostos.


Procuraram imediatamente ajuda, e ficaram felizes em encontrar uma Agente Especial da FIA que traduzindo com a letra ao pé, significa Agente da Inteligência Francesa… Atendia por Marina mas elas desconfiaram que poderia não ser o nome verdadeiro, uma vez que essas agentes são muito importantes e não dizem o nome verdadeiro, mas não importava, o importante mesmo era que recuperassem seus bens. Estefânia, falando um fluente francês, explicou detalhadamente o que havia acontecido. É de notar, que se avaliarmos a fotografia da situação, poderemos ver ao fundo uma mulher que testemunhou o assalto e desesperada, colocava a mão à cabeça.


A Agente nem quis acreditar, como era possível acontecer tal maldade, mas não perdeu tempo e com uma rapidez que impressionou as turistas, entrou em contacto com o Agente Maurrice, um seu subordinado, também da FIA, pelo seu aparelho ultra secreto denominado “Fala Andando” que parecia invisível pois conseguia ficar escondido entre seus dedos.


Nessa altura do campeonato, ou melhor do assalto, Isadora e Estefânia já estavam sem paciência e pensando, acho que aqui é igual Brasil, vai acabar tudo em pizza… Mas, eis que do nada, como se fosse um fantasma super sónico, aparece Maurrice. A Agente Especial Marina, olhou séria para o Agente Nem Tão Especial Assim, Maurrice e sendo sua superior hierárquica, não ficou muito contente com a demora. 


Isadora e Estefânia ainda conseguiam ver ao longe, o biltre que as havia enganado, e prontamente o identificaram indicando-o para o Agente Nem Tão Especial Assim, Maurrice.


Maurrice pensou que não seria difícil alcançar o bandido e domina-lo, pois em matéria de músculos e artes marciais era imbatível. Na questão das artes, até já havia sido convidado para expor suas artes em vários museus, aguardando uma resposta do Louvre, e… mas voltando ao assalto, Maurrice correu ao seu encalço e, alcançou-o, logo a saída do aeroporto. Sob o olhar atento de Isadora e Estefânia, ao fundo com um afastamento seguro, o Agente Nem Tão Especial Assim, aplicou um gancho de esquerda no plexo abdominal que fez o vagabundo, expelir todo ar que havia em sí, soltando um pavoroso huu! Ao que Maurrice pensou, nossa, esse infeliz deve ter comido muita cebola.


Mas sem se deixar distrair e antes que o energúmeno pudesse entender o que estava a acontecer, aplicou um belíssimo soco de direita, agora na mandíbula, o que fez avulsionar o terceiro molar inferior, normalmente conhecido como dente do siso, acompanhado com um jorro de sangue quando foi expelido, ao que o bandido pensou, pelo menos não vou ter que pagar aquela fortuna que o dentista ladrão me pediu para extrair esse dente, entretanto, Isadora e Estefânia viraram de costas para a luta tal o massacre inflingido pelo Agente Nem Tão Especial Assim.


Após informar ao gatuno que não tinha direito nenhum, apresentou-o a Agente Especial Marina que recuperou os bens furtados e entregou-os as respectivas donas que não cabiam em si de tanta alegria.


Como o bandido era brasileiro, e aproveitando que estavam todos no aeroporto, foi logo embarcado, para o Brasil. (apesar de embarcar ficar melhor para barco e não para avião), O biltre foi logo punido e, em se tratando da FIA, não há cá burocracia… 

Apresentando

Isadora.    Como a mochileira Isadora. 

Estefânia. Como a mochileira Estefânia. 


Marina. Como a Agente Especial da Fia Marina. 

Maurício. Como o Agente Nem Tão Especial Assim Maurrice. 

Marco. Como o Biltre, Gatuno, Ladrão, Energumeno. 

Mariana. Como aquela que não quis ficar pagando mico no aeroporto e não entrou na fotonovela.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Viagem de veleiro Lisboa - Portimão

Lisboa – Algarve – Brida – Treino de Mar


O domingo estava ensolarado e o fim da manhã avisava que a tarde iria ser quente. No Brida, um Beneteau Oceanis 411, ultimavam-se as arrumações para a viagem, Lisboa – Portimão. Fernando e Pedro da Treino de Mar, combinaram que os tripulantes deveriam chegar as 11:30, para, então, zarparmos as 12:00. Cheguei, pontual, que nisso de atrasos a Treino de Mar faz cara feia… e ao chegar ao portão da Doca de Alcântara, fiquei algum tempo a olhar através da tela aramada que separa o sonho da realidade, do lado de lá da tela estão embarcações lindas, à vela e à motor, de todo tamanho e feitio, e, claro, para todos os bolsos, do lado de cá, está o caos da cidade, trânsito, crise, desemprego, políticos que falam em medidas de austeridade, só esquecem que em latin, austeritate, significa seriedade e exactamente esta seriedade não vemos nos políticos, e, por essas e outras, é que queria ficar, pelo menos um dia, no lado dos sonhos.
Após breves despedidas, zarpamos, e mesmo sendo uma pequena viagem de apenas 24 horas, as despedidas são estranhas e causam um sentimento de saudade antecipada, e não pude deixar de pensar em nossos antepassados mais recentes, na fase de emigração, anos cinquenta, em que, ao embarcar em um navio, as despedidas, na maioria dos casos, eram para sempre, pois muitos, nunca mais voltariam, e assim, meio melancólico, saímos da doca e entramos no Rio Tejo. Logo a melancolia deu lugar a animação e Firmino, sempre muito animado, e que estava ao leme disse: “ _ Toca a desligar o motor e vamos à vela, em dois bordos conseguimos sair do Tejo e aproamos ao Cabo Espichel”. Não foi bem assim, tivemos que dar meia dúzia de bordos e após quase 2 horas conseguimos aproar ao primeiro objectivo, é claro que isso rendeu também meia dúzia de reclamações bem-humoradas, mas enfim, e com muito calor, lá conseguimos sair do Tejo e aproamos rumo ao Cabo Espichel. Agora com a perspectiva de mantermos o mesmo bordo durante algum tempo, era a hora do farnel, e os organizadores, haviam pedido que levássemos comida para partilhar, mas normalmente entendemos: “_ Tragam comida para um batalhão…” E assim, tínhamos comida que, sem exagero, dava para ir até Marrocos. Só para dar um exemplo, havia uma caixa com, apenas… um leitão!
Cumprida a obrigação do repasto, tinha medo que tanta comida fosse dar um mal resultado à noite, quando provavelmente o mar estaria com mais ondulação, e o medo era meu, pois não tenho muita firmeza de estômago e tinha medo do “mal de mer”, não só pela indisposição que estraga a viagem do infeliz, mas principalmente por medo de fazer má figura com os novos amigos. Esse medo, é um ranço de masculinidade em que não podemos demonstrar fraqueza, chorar ou demonstrar carinho, mas na verdade não foi nada disso que aconteceu, alguns, tiveram uma ligeira indisposição mas nada que atrapalhasse ou que fosse objecto de recriminação, ao contrário, havia sempre alguém para ajudar.
Tiago, o mais jovem, esbanjava tranquilidade, ora pegava sol, ora lia uma revista dentro da cabine, ora dormia em algum canto, impassível com o movimento do barco e na tranquilidade que só conseguimos na idade que nossa maior preocupação não vai além do fim das férias. Acredito que a companhia de veteranos quarentões, não fosse lá das melhores, até porque, nossas conversas acabam sendo cansativas, Mas Tiago não se incomodava, desde que não interferissem com os petiscos e com o jantar, onde, alheio ao movimento do Brida, enquanto nos preocupávamos com a quantidade que colocávamos no prato, com medo de enjoar, repetiu a lasanha, que segundo Pedro não precisávamos nos preocupar pois era um jantar “diet!”.
 O percurso entre a saída do Tejo e o cabo Espichel decorreu tranquilo, sempre no mesmo bordo e com vento de alheta, recebendo o vento de estibordo. Nossa intenção era passar próximo ao cabo Espichel e continuar um rumo directo ao cabo de São Vicente, isso nos faria passar ao largo de Sines mas com o inconveniente de provavelmente encontrarmos muito tráfego de navios. Desde nossa saída em Lisboa, reparava que Luís estava sempre conferindo o equipamento e afinando as velas e eu procurava entender como funcionava as afinações que ele fazia pois afinal, meu objectivo nessa viagem era aprender mais sobre vela. Logo percebi que essa vocação para as afinações vinha do seu gosto regateiro, onde a velocidade e a precisão são fundamentais. Luís nunca se recusava a responder às perguntas, e me tornei um verdadeiro incómodo. Pensamos algumas vezes em içar a vela Balão, também conhecida como Spinnaker, mas içar o balão envolve uma manobra mais complexa e a tripulação não era propriamente experiente e Luís, tinha receio.
O por do sol é sempre uma hora importante, e tem sempre uma magia implícita, já vi por do sol enquanto viajava de avião, em navio e até voando de asa delta, mas mesmo após tantos ocasos, sempre que consigo ver, paro o que estiver a fazer, para apreciar o espectáculo e, quem sabe, na esperança de assistir um “green flash”, e perdido nesses devaneios, enquanto o Jorge timoneava, uma onda mais afoita bateu no costado e tomei um verdadeiro banho, fazendo-me voltar ao Brida, já estava com frio mas estava adiando a troca de roupa para o impermeável, com medo de ficar abafado em tanta roupa e começar a enjoar, mas, com a roupa toda molhada não teve jeito e entrei na cabine para colocar uma roupa quente e o impermeável. Nesse meio tempo fez-se a divisão dos quartos, e ficamos, eu e Tiago, com o quarto das 23:00 à 01:00. Tentei descansar um pouco mas foi impossível, a ondulação havia aumentado e apesar do vento não ser muito forte, a navegação estava bastante desconfortável, pois a frequência de onda era mais rápida que a velocidade do Brida e passávamos o tempo a ver as ondas se formarem na popa, levantar o veleiro como se fosse um barco de papel e passar por nós, não é que fosse propriamente perigoso, mas que fazia um bocado de impressão, fazia, e, o que era pior, é que normalmente a ondulação, ao passar, jogava a popa para sotavento fazendo o Brida adornar de maneira bem desconfortável, obrigando aos incautos a se agarrarem ao que estivesse próximo e fosse firme, a essa altura já o timoneiro, da hora, estava amarrado com seu arnês à linha de vida, enquanto quem estivesse no convés, também tinha o arnês vestido. O luar era forte, quase lua cheia, e isso era, antes da beleza, um factor importante pois com visibilidade conseguíamos avistar os navios. De facto, o objectivo do rumo que havíamos tomado era, como disse, traçarmos uma recta ao cabo São Vicente, mas a costa ficou longe, devido a concavidade geográfica da costa alentejana, e ainda, uma ligeira mudança do vento nos obrigou a uma ligeira variação para oeste, o que nos fez entrar exactamente na rota dos navios que se dirigiam ao porto de Sines, vindo de alto mar, e, quando assumi o meu quarto, as 23:00, já avistávamos navios a toda volta. Fernando e Luís se revezavam na perscrutação do horizonte e na mesa de navegação de olho no radar, tentávamos ver as luzes de navegação para saber em que direcção seguiam os navios, e em dada altura, passamos a popa de um cargueiro carregado de contentores, e por mais que fosse uma situação controlada deu um arrepio na “espinha” quando a uns míseros 20 metros do navio ouvimos o apito de saudação do navio. Nessa altura estava no leme e não queria que o meu quarto terminasse, estava muito satisfeito de estar ali, naquela hora, era isso o que queria, aprender mais sobre navegação em alto mar, navegar a noite e se possível com mal tempo, pois sabia que tinha pessoas responsáveis e com experiência onde poderia aprender, e uma coisa que aprendi foi, prudência, pois logo Luís e Fernando decidiram que não valia à pena ficar no meio do tráfego marítimo e resolveram que deveríamos cambar em roda e seguirmos, agora, em direcção a costa, mesmo que isso nos obrigasse a outros bordos de correcção de rumo. Passamos a receber o vento por bombordo e a navegação ficou um pouco mais confortável, em pouco tempo passei o leme ao Tiago, com a indicação do rumo a seguir, e logo avistamos o farol do cabo de são Vicente e passamos a nos guiar em direcção ao cabo, mas, novamente o rumo ficava um pouco apertado e mais uma vez, e por prudência, demos outro bordo com a finalidade de nos afastarmos, a ponto de termos margem para dobrarmos o cabo.
O dia amanheceu e ainda não tínhamos chegado suficientemente próximo a costa mas logo o tempo passou e, respeitadas as distâncias de segurança, cruzamos o cabo de são Vicente e a Ponta de Sagres. Estávamos animados com a perspectiva de, agora seguindo rumo leste, fossemos navegar com uma orça apertada, o que faria o Brida aumentar consideravelmente sua velocidade, mas o que aconteceu foi que entramos num lago e o vento praticamente parou e para minha decepção, ligamos o motor e aproamos a entrada da Marina de Portimão.
Tomamos um tranquilo pequeno-almoço e em pouco tempo estávamos ancorados em Ferragudo e todo encanto do por do sol, do luar, do vento, das ondas levantando a popa do Brida, e dos golfinhos que nadaram algum tempo ao nosso lado, foi quebrado pelo barulho da Música na praia de Portimão e das motas d`água passando em velocidade ao nosso lado. Era a terra perguntando: “_ Aproveitou o lado do sonho? Então se prepara para voltar ao lado de cá do aramado”.
                                  

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Nostalgia

Viver pensando só no futuro e deixando esse futuro ao acaso, comprovadamente, não é bom. Viver só de lembranças, também não é saudável. Por isso veja o que escreveu o jovem Thadeu Saieg, 19 anos.

Por quê? Por que se o tempo passa isso se chama nostalgia? O nome já passa um sentimento de doença... “Estou com nostalgia", então vá se tratar. Não vejo doença, vejo que posso ir e voltar, e mudar, mudar muito. Vejo que posso rir e falar: "essa foi boa", foi ótima! A impressão que um futuro vai chegar passa completame...nte despercebida pelos olhos ‘nostálgicos’ do tempo impresso. E se o tempo chega, da até vontade de dizer que foi ‘coincidência’, mas e se tiver sido destino? Por que teria sido destino? O clima. O ar. Sinto-me dentro do ambiente novamente, sinto o peso da roupa pelo meu corpo, sinto vontade de ir, ir embora, arrumar a bagunça e falar: "já fiz tudo, viu?". O sentimento é de... Bom, receio que seja de algo próximo a paixão, paixão pela vida, paixão pelo que viveu e, também, uma enorme vontade de gritar para todos: "Eu vivi esse momento!", e acredite, eu vivi, e por isso gosto de voltar atrás e relembrar, não sou um museu, múmia, ou qualquer outra analogia as lembranças passadas, sou um apaixonado, apaixonado pela vida, apaixonado pelos momentos. Os momentos sim, eles que trazem alegria, mas trazem angustia. Angustia por quê? Angustia de quem viveu e sentiu necessidade de viver mais, viver mais aquele momento, um momento que está preso no passado, acabei, por fim dessa conclusão, descobrindo o real significado de nostalgia. Mas não quero lembrar com nostalgia, ou melhor, não quero a nostalgia, uma doença, uma palavra ruim, feia. Que tal paixão? E se for amor? Prefere assim? Se for muito difícil tragar essas palavras, use apenas felicidade. E se for ver com esses olhos, ser feliz é nada mais nada menos que descomplicar. Nada de complexidades. É difícil, e, sejamos realistas, o mundo não é assim, mas tente ser absolutamente imparcial, descomplicado. Mas o que me deixa muito chateado é não poder prever o futuro, para comentar com um amigo: "Ei, adivinha o que vai acontecer", mas essa é a graça, no futuro iremos rir, sim, rir, de tudo. Ficaremos sempre magoados, sempre, mas podemos sempre rir, sempre. Uma imagem que não apenas diz algumas palavras, mas conta uma história de uma vida toda, vivida até o momento e enquanto estiver vivendo. Não acredito em nostalgia, acredito em paixão, a paixão que expresso um simples sorriso, a paixão que me lembra daquilo que eu sou, eu sou o que está aí e isso não pode ser tirado de mim, eu sou o que aconteceu, eu sou o agora e, por mais que seja diferente, serei o futuro. E sempre carregarei essa paixão. Thadeu Saieg  





quinta-feira, 28 de julho de 2011

DNA

Fiquei velho. É um facto, e isso aconteceu de um dia para o outro e ninguém me avisou. Não que me sinta velho, nem que tenha muita idade, mas sinto que os mais novos me acham mais velho.
Enquanto em uma conversa com alguém, digamos, com metade da minha idade, eu me sinto completamente integrado, e imagino que afinal o meu interlocutor nem deve imaginar que tenho quase o dobro da idade dele, não tarda aparece a meio da conversa um: "senhor", ou "na sua idade", ou "no seu tempo", como se vivessemos em tempos diferentes...
Certa vez uma paciente com seus bem vividos 80 anos, disse-me que só se sentia velha quando se olhava no espelho! A partir desse dia me dei conta que havia uma certa injustiça na natureza. Existem, via de regra, 2 curvas de envelhecimento, a do corpo e a da mente.
A do corpo é mais pronunciada e vai acusando o envelhecimento nas dores disso e daquilo, na tensão arterial, no estomago que já não suporta aquelas avarias de "outros" tempos, e o figado nem se fala.
A curva da mente, essa de certa forma vai melhorando, ficamos mais sábios, mais pacientes, mais ponderados, tipo vinho do porto mesmo e aí é que está a injustiça, enquanto a mente imagina o corpo declina.
Mas com o passar do tempo as linhas se encontram e tudo definha.
Por isso, vamos começar a tomar algumas atitudes para tentar minimizar os estragos.
  1. Partir os espelhos todos...
  2. Só conversar com mais velhos, com um pouquinho de sorte ainda nos chamam de garotos...
  3. Muita atividade fisica, na medida do possível, mas nem pensar em ginásios e academias, pois e lá que residem os fortinhos e novinhos...
  4. Discoteca, não! Outro dia minhas filhas estavam reclamando que no Kaxaça, só ia velho. Atento, com certo receio da pergunta e sem chamar muito a atenção, perguntei: Como assim velho?, que idade? e a resposta foi um uníssono 30 e muitos anos... Realmente, afinal trinta e muito já é praticamente 40!
  5. Barriga, pneu, esse é um problema, mais do que a careca, pois no quesito capilar não tivemos culpa, mas, ao contrário, quanto a barriga, essa é toda de nossa responsabilidade. Se não der para perder a barriga ou diminuir, pelo menos vamos encolher, com cinto apertado, prendendo a respiração, enfim, da forma que der, principalmente enquanto estivermos a ser vigiados...
  6. Por último, e essa sim é verdadeira, vamos fazer tudo, não deixar para amanhã, pois voce vai ficar ainda mais velho e não pode se arrepender de não ter feito.
P.S. Caso alguém ainda não saiba, DNA significa: Data de Nascimento Antiga




quinta-feira, 30 de junho de 2011

Oriximiná

Há quem viva de lembranças, e mais há, talvez, quem critique aqueles que vivem do passado, mas acredito ser verdadeiramente bom viver o presente com boas lembranças do passado. Numa dessas viagens ao passado lembrei de Oriximiná. Oriximiná era uma pequena cidade, as margens do rio Trombetas, na amazonia legal. Pertence ao estado do Pará no Brasil e hoje está bem maior do que era 30 anos atrás. O rio Trombetas é um afluente do rio Amazonas esse enorme rio cuja largura média é de aproximadamente 5 quilômetros. Em alguns lugares, de uma margem é impossível ver a margem oposta, por causa da curvatura da superfície terrestre. No ponto onde o rio mais se contrai - o chamado "Estreito de Óbidos" - a largura diminui para 1,5 quilômetro e a profundidade chega a 100 metros. A sua água é de cor escura, barrenta, devido a lenta, mas constante erosão das suas margens. Dava um certo receio nadar no rio, principalmente um doutorzinho vindo da cidade grande... Mas foi só por nadar no rio que as coisas mudaram...
Estava ainda na faculdade e soube que a universidade, tinha o que chamava de uma unidade avançada. Era um pequeno "hospital", que tinha uma pequena sala de atendimento, uma sala de cirurgias e um consultório dentário. A cada mês, uma equipe formada por um médico, um dentista, um enfermeiro, um farmaceutico e uma assistente social, era selecionada para substituir a equipe anterior. Foi quando soube que um amigo tinha ido e logo me candidatei a substitui-lo.
A nova equipe embarcou no avião bandeirantes, um bimotor da força aérea brasileira que uma vez por mês levava a nova equipe e trazia a que lá estava. A viagem levou cerca de 14 horas e a tradição era sobrevoar a cidade em voo rasante pois dessa forma as pessoas saberiam que o avião havia chegado e iriam até a pista de pouso, que devido ao relevo, era ainda afastada da cidade. Enquanto as pessoas se dirigiam ao "aeroporto", o avião fazia umas acrobacias, ainda parte da tradição, e quando os carros chegavam, ele aterrisava. Na época eu era piloto de asa-delta, e o amigo que iria substituir contou para todos que eu deveria estar adorando, e aquilo não era nada para mim... Enquanto eu enjoava, e me sentia verde como as copas das árvores que ora via de um lado, ora via do outro, uma freira, já com bastante idade, que viajava ao meu lado, vibrava com as manobras como se estivesse numa montanha russa da Disney. E eu só queria um lugar, que não tinha, para vomitar... Fui o ultimo a descer, do avião, já não tão verde, mas ainda ictérico e quando cheguei junto ao pessoal da cidade que havia ido nos recepcionar, ví logo seus olhares de reprovação.
Era uma 6ª feira, e o avião partiria na 2ª feira, o alojamento, as ruas, as casas, o "hospital", tudo era tão precário que eu só pensava em voltar na 2ª, infiltrado no avião como um passageiro clandestino, mas a tal da responsabilidade, esse mal que começa acometer os jovens e que depois vai piorando com o passar dos anos, não me largava e assim fiquei angustiado os 2 dias. Na 2ª, logo pela manhã levamos os felizardos até ao "aeroporto" e com muita tristeza vi o avião decolar, e desaparecer no céu, não sem antes, uma série de acrobacias e razantes na cidade.
Fui para o hospital e comecei minha jornada que terminaria as 17 horas, pela manhã não apareceu ninguem no consultório, a tarde, também foi calma e no fim do expediente um grupo de jovens da cidade, passou no hospital perguntando se eu não queria ir dar um mergulho no rio. Claro respondi e corri para o alojamento a procura de uns calções. Caminhamos alegres rua abaixo e eu mais contente, pois afinal, não tinha como sair dali mesmo e a solução era me acomodar, o único transporte era de avião ou barco mas esse levaria 3 dias até chegar a cidade! Quando chegamos as margens do rio Trombetas, uma grupo já estava se banhando e mergulhando de uma pedra e aí ví a verdadeira intenção do convite, todos já sabiam da minha triste figura no avião e como cidade pequena não tem muito que fazer e naquela época não existia internet, resolveram rir as minhas custas pois tinham certeza que eu teria medo de mergulhar no rio. Na verdade, como piloto de asa-delta, não tinha medo de altura, e além disso, estava acostumado a fazer mergulho nas praias do Rio de Janeiro e conhecia todas as pedras boas para mergulho, do Rio a Niterói. Só que o mar é limpo e normalmente até vemos o fundo, mas, naquela água barrenta, não se via nada. Mandaram mergulhar da pedra e logo me dirigi para o lugar mais alto, O silencio foi geral, e só perguntei se tinham certeza que não havia pedras em baixo. Ser um bom dentista estava em segundo plano, logo percebi que tinha que me enquadrar com a comunidade e nesse caso seria demonstrando um pouco de coragem e não passando a imagem de um doutorzinho imaturo e covarde. Fiz uma breve oração rezando para realmente não ter nada em baixo e fiz um belíssimo mergulho em canivete. O medo era tanto que quase não afundei, mal entrei na água, já estava desesperadamente nadando para cima, mas quando cheguei a superfície recebi uma grande salva de palmas com mutos sorrisos a mistura. depois do mergulho fomos jogar futebol e no fim do dia estava exausto.
No dia seguinte o consultório estava cheio.
Só depois é que soube que daquele lado da pedra moravam uns jacarés, e por isso ninguem ia para aquela lado, mas fosse verdade ou não, já tinha passado e eu estava em terra firme, se bem que nem tão longe deles...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Infância

Vi um filme, que se não me engano, tinha como título: "O Maravilhoso Mundo dos Brinquedos". Assisti como sendo um filme de domingo, apesar de ter sido na 5ª feira. Foi bom para entreter e nada mais; a não ser o facto de, depois do filme, tentar me lembrar dos brinquedos de infância que tive.
É preciso referir antes que não tive muitos brinquedos por um único motivo: Não havia dinheiro para brinquedos... Não haver dinheiro para coisas "supérfluas" era uma situação tão clara e normal que ninguém sofria por isso e nem sequer nos atrevíamos a pedir, corriamos o risco de lavar um cascudo. ( cascudo, a quanto tempo não falo essa palavra... mas para quem não lembra ou nunca ouviu falar, cascudo é uma pancada na cabeça com o nó dos dedos; carolo ). Não é que seja uma pancada muito forte, mas dói!!!!!
Mas, acho que foi por essa época, que aprendi a tirar proveito do lado ruim das coisas e procurar ver sempre o lado positivo. Tudo servia como brinquedo. Um rodinha de borracha que empurravamos com um  arame tentando manobrar a roda sem que ela caisse... Nossa que bom que era! Fazer carrinho com caixas de fósforo, e usar os palitos queimados como dinheiro, lembro que naquela época um litro de combustível para os carrinhos custava cerca de 3 palitos e meio... E assim ia fazendo meus brinquedos, mas depois a coisa evoluiu e meus brinquedos começaram a melhorar. Um dia vi uma reportagem sobre uma novidade que aparecia nos USA, era uma pequena prancha sobre rodas que chamaram de Skate. Fui a uma serraria que havia perto de casa e pedi um pedaço de madeira e como os funcionários não ligavam muito a crianças, mandou que eu mesmo procurasse na pilha dos restos de madeira e ver se tinha alguma coisa que interessava.
Claro que tinha, tudo ali me interessava, mas para não acabar com a galinha dos ovos de ouro, pedi só aquela que daria para fazer o Skate. Desenhei, com lápis, 2 pranchas, um desenho que havia copiado das revistas que via no jornaleiro e lá voltei para a serraria, dessa vez com um pedido um pouco mais complicado. Cortar a madeira seguindo o desenho que havia feito. O funcionário disse logo que não poderia fazer pois não tinha autorização e mandou falar com o dono da serraria. Fui até a secretaria e pedi para falar com o dono. A secretária me olhou de cima a baixo, coisa que não levou muito tempo, riu e foi perguntar ao patrão se poderia me receber, e para espanto dela e meu, claro, ele mandou entrar. Era uma sala enorme toda em madeira trabalhada, com uma mesa igualmente enorme com papeis, mas bem arrumada, e por trás uma estante cheia de livros encadernados, fiquei impressionado e acho que encolhi ainda mais. A sala era escura mas um candeeiro iluminava parte da mesa fornecendo luz suficiente para que se pudesse trabalhar, no resto da sala, apesar de ser dentro da serraria, reinava o silencio. O dono, (pena não saber o nome dele...) mandou-me sentar numa das poltronas que ficavam em frente a mesa e na mesma hora desapareci dentro dela. Só conseguia ver o que estava a frente pois para os lados havia uma aba de cada lado da poltrona que tinha a impressão que iriam me abraçar. Ele, fumando um cachimbo cuja fumaça dançava desenhando no ar estranhas e hipnotizantes formas, dançando num descompasso muito mais lento do que as batidas do meu coração, me perguntou o que desejava. Mostrei o pedaço de tábua e o desenho, explicando para que servia. Ele indagou porque dois desenhos e, então expliquei o meu plano. Disse que tinha um amigo que tinha uns patins, daqueles de 4 rodas, que faziam um barulho horrivel e que eu tentaria convençe-lo a, com um pé dos patins, fazer o Skate e em troca ele me daria o outro. Ele perguntou se eu não deveira ter feito a proposta, ao amigo, antes de cortar a madeira, e expliquei que não, pois com a madeira cortada, ele veria que o plano era viável. O dono deu algumas baforadas, olhando o desenho na madeira como se tivesse todo o tempo do mundo e eu não conseguia decifrar em seu rosto se havia aprovação ou reprovação e nem consegui desviar o olhar pois me sentia vigiado pelas abas da poltrona.
Após o que me pareceu uma eternidade, chamou a secretária ordenando que fosse chamar o encarregado. Quando o encarregado chegou ele disse: Guarde bem a fisionomia e o nome desse rapaz, pois de hoje em diante pode dar e cortar a madeira que ele quiser. Disse que eu podia ir e quando me levantei ele esticou a mão para me comprimentar, tentei retribuir o aperto de mão firme e tentei passar meu agradecimento. Ele nunca mais deve ter se lembrado disso, mas para mim foi um formador de personalidade, me ensinou a ter mais tempo e a ouvir, me ensinou a dar oportunidades, e tudo isso em, quem sabe?, 10 minutos?...